terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Sobre tudo o que eu queria te dizer

“Difícil é esquecer quando se tem amor e você tornou-se impossível de esquecer”
Guilherme de Sá (Verso de Parusia – Rosa de Saron)


Não importa o tempo que passe, não importa o que me faz lembrar, não importa o dia do ano, sinto que essa falta nunca sairá de mim.
De vez em quando eu queria acreditar que a senhora pode me ouvir, porque me confortaria saber que a senhora sabe como eu me sinto, apesar de achar que sempre soube.
De vez em quando, quando eu chego em casa ainda te procuro, me distraio e quase pergunto: mãe, cadê a vó?
De vez em quando eu ainda abro a porta do quarto que não é mais seu e olho a poltrona onde a senhora não está e sinto uma frase entalada na minha garganta: “Benção meu amor”
De vez em quando, quando saio de casa e peço a opinião de alguém sobre a roupa que estou vestindo ou sobre qualquer coisa na minha aparência, eu ainda vejo seu sorriso pra me dizer: “Você já nasceu linda minha filha”
De vez em quando, talvez eu sonhe, eu ainda vejo a luz do meu quarto se acender em algum momento da noite, é senhora que veio ver se estou bem, saber se eu já cheguei: “Boa noite minha filha, dorme com Deus”
De vez em quando eu abro uma gaveta, mexo numa caixa, vejo uma foto e é inevitável pensar no seu abraço e lembrar do seu cheiro.
Eu lembro dos sonhos que a senhora  tinha pra mim, eu sei quais eu já realizei, mas o sabor das conquistas não é o mesmo.
E quando eu penso nas coisas que ainda quero pra minha vida, nos sonhos que estou buscando hoje eu não consigo deixar de pensar que a senhora não estará comigo.
Eu queria te falar de tudo que eu aprendi, que sempre te achei a mulher mais forte e mais doce desse universo. A senhora sempre tinha um sorriso, uma lágrima , uma palavra pra tornar minha vida mais branda, meu fardo mais leve, meu mundo melhor.
Eu queria falar do seu exemplo, de quem não estudou mas sabia o valor da educação, de quem lutou pra colocar os filhos nas melhores escolas, de quem apoiou os netos nas lutas e nas dificuldades.
Eu queria falar do seu amor, de quem me deu colo quando eu chorei, de quem me repreendeu quando eu precisava disso, de quem riu comigo nos meus melhores dias.
Eu queria falar do seu bom humor, da sua revolta com as injustiças, da sua disposição para ajudar os outros.
Não importa quantas vezes eu tenha te dito como eu gostava dessas coisas e o que eu achava de tudo isso. Sempre vou achar que não foi o suficiente.
Perder a senhora foi de longe a pior dor que senti na vida.
E quando essa dor bate forte, sem dia especial nem motivo aparente,  eu lembro da senhora, e eu lembro daquele olhar que sorria pra dizer “Por que você ta chorando? Venha cá, me diga” e dos conselhos, do cafuné, do abraço.
Aí, ao mesmo tempo que sua ausência me dói, lembrar da senhora me dá forças pra continuar, me enche de vida e de esperança, me enche de vontade de ser pelo menos um pouquinho da mulher maravilhosa que a senhora foi, me enche de vontade de ser a neta de quem a senhora teria orgulho.
E se eu pudesse vê-la de novo hoje eu só ia querer um sorriso, um abraço, um beijo e a oportunidade de te dizer que te amo e receber sua benção mais uma vez.

PS: Esse texto estava “entalado” no meu coração há quase três anos, desde quando minha avó nos deixou. Coloquei ele no papel como forma de desabafo, de aliviar a alma.
Dessa sensação de ausência e incompletude que tenho hoje no coração tirei a lição que nenhum “eu te amo” deve ser guardado.
Se posso dar um conselho a alguém é esse: se você ama diga. Palavras não são tudo, mas são necessárias
Se você ama aja de acordo com seu amor, ria junto, chore junto, ouça, abrace. Faça-se presente.
Se você ama seja sincero, a verdade dita com amor transforma.
Se você ama peça perdão e perdoe.
Se você não ama, ame.

Um comentário:

  1. Que delícia ler lembranças tão agradáveis. Eu ainda não perdi nenhuma de minhas avós e diante desse texto, prometo que intensificarei meu carinho e respeito por ambas.

    Bom sentir saudade de gente tão boa. Muito melhor é esperança que muito em breve voltaremos a abraçá-las.

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