segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Reflexo

De repente você se depara com o espelho e não reconhece a pessoa que te encara.
Olha a si mesmo nos olhos e percebe que falta alguma coisa. Não se enxerga ali.
O problema não é cabelo que você cortou ou a barba que deixou crescer. Nem é o uniforme de trabalho que não diz nada sobre a sua personalidade. Nem mesmo as suas novas opiniões sobre a vida ou sobre as pessoas.
O problema não é algo em você que tenha mudado. Talvez o problema seja justamente o que não mudou.
Algo ali, na imagem refletida me é estranho. Algo ali, que eu não consigo identificar muito bem não é o que deveria ser.
Talvez o que eu estranhe no meu reflexo seja a distância que ainda existe entre quem eu sou e quem eu quero ser.
E hoje, quando me estranhei no espelho, respirei fundo e olhei pra mim mesma tentando enxergar a realidade, tentando aceitar que a estranha no espelho sou eu sim, e que as minhas imperfeições não me devem ser estranhas.
Hoje, quando eu me estranhei no espelho assumi um compromisso comigo de me aceitar assim, humana e imperfeita.
E se eu descumprir a promessa, que seja, tento de novo, talvez eu precise me estranhar no espelho mais uma vez.
O que eu não posso esquecer é que a pessoa no espelho é só um reflexo e que a vida, aqui fora do espelho, me exige lidar passo a passo com as imperfeições que me incomodaram na imagem refletida.
Porque me estranhei no espelho me obriguei a encarar a realidade da vida. E pelas imperfeições que enxerguei me comprometi a continuar passo a passo: imperfeita e humana.
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sexta-feira, 15 de julho de 2011

Tentar é viver



“É errando que se aprende.” A despeito de toda a verdade da sentença, o errante geralmente está ferido demais pelo golpe do erro para colher o aprendizado - o que é muito compreensível, pois é preciso lamentar o erro e assimilar o golpe antes de aprender a lição.
Passado o lamento e assimilado o golpe, é hora de rever os pontos e aprender. Pois, de fato, é errando que se aprende. Contudo, a verdade dessa sentença está nas entrelinhas: mais vale a tentativa do que o resultado.
Ninguém nasce sabendo falar, é preciso tentar. Ninguém nasce sabendo andar, é preciso tentar. Como praticamente em tudo da nossa vida, as primeiras tentativas de fazer algo que não sabemos são frustradas, marcadas pelo erro. Mas não tem problema, é errando que se aprende - nas entrelinhas: se tentarmos mais, certamente aprenderemos.
Essa sentença é um elogio à tentativa, portanto. Elogio verdadeiro e necessário. Afinal, estamos todos vivendo pela primeira vez, precisamos tentar.
Tentar é mais importante do que o resultado. Ora, mais importante do que um bebê pronunciar a palavra “mamãe” corretamente, é tentar. É a tentativa que derrete o coração da mãe, não o acerto. E, por força da metáfora, acredito que com Deus em relação a nós acontece o mesmo. O coração de Deus não se derrete com palavras pronunciadas corretamente, mas ao ver seus filhos e filhas tentando falar.  
Precisamos aprender, portanto, que errar não tem tanto problema assim, pois é próprio da nossa condição finita e limitada de aprendizes. E que acertar também não é tão importante assim, pois a verdadeira virtude é tentar, não acertar. Acertar nem é uma virtude, é um risco que aceitamos correr quando as chances de sucesso ainda não passavam de cinquenta por cento.
Erro versus Acerto é uma tensão que viveremos por toda a nossa vida, porque estamos em processo de formação, de aprendizado. Ninguém nasce pronto, somos seres em devir.  
Todos nós teremos nossas vidas marcadas por erros e por acertos, desde que façamos tentativas. Parar de tentar constitui o verdadeiro problema, pois quem não tenta certamente não erra, tampouco acerta, e definitivamente não vive.
Quem tenta tem história para contar. Quem tenta tem erros para lamentar e acertos para se alegrar. Quem não tenta nem história tem, quanto mais erros ou acertos.
Não somos definidos por nossos erros nem por nossos acertos. Somos definidos pelas tentativas que fazemos ao longo da vida. São elas que verdadeiramente revelam quem somos.

Lucas Lujan

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Sobre os insetos interiores


( Inspirado em “A metamorfose ou Os Insetos Interiores ou O Processo” do Teatro Mágico.)

“Existem milhões de insetos almáticos.
Alguns rastejam, outros poucos correm.
A maioria prefere não se mexer.”

Fato inegável do dia-a-dia de cidade grande é que a rotina nos consome. Em meio a correria, a multidão de coisas pra fazer, aos problemas que temos pra resolver, ao trabalho, ao trânsito, acabamos presos a situações que não são de fato a nossa vida.
É como se uma doença, um vírus, no consumisse. E aí a rotina toma o lugar da vida e passamos a nos arrastar ao invés de viver.
São nossos insetos interiores. São nossas atitudes conformadas e comodistas que nos levam para hora após hora e dia após dias se arrastando, sem viver no presente e esperando um futuro que fazemos questão que não chegue.
Não vivemos o presente, pois estamos sempre aguardando algo mais, algo diferente.
E não construímos um futuro porque, mesmo aguardando algo mais, mantemos a mesma atitude, se queremos mudança, temos de mudar primeiro.
O fato é que a rotina nos ensina que “É mais fácil aturar a tristeza generalizada
Que romper com as correntes de preguiça e mal dizer.” O fato é que geralmente estamos tão acostumados à infestação de nossos insetos interiores que os temos quase como animais de estimação. Cuidamos deles. Fazemos com que se proliferem.
Não quero sugerir que é fácil viver assim, mas estamos tão acostumados com essa realidade, que qualquer outra nos parece impossível.
Lutar contra nossos insetos do dia-a-dia não é fácil, mas é simples. São pequenas atitudes que nos tiram do conformismo, que geram vida, que transformam realidade.
Inseticidas contra nossos insetos almáticos são os “bom dia” sinceros, os sorrisos iluminados, as atitudes de amor.
Cada um tem suas peculiaridades do dia-a-dia. Cada um tem seus próprios insetos almáticos. Cada um tem seus próprios inseticidas.
Descobrir os nossos inseticidas para esses insetos não é fácil, provavelmente é um  longo caminho. Mas todo caminho começa com o primeiro passo.
Comece.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Sobre tudo o que eu queria te dizer

“Difícil é esquecer quando se tem amor e você tornou-se impossível de esquecer”
Guilherme de Sá (Verso de Parusia – Rosa de Saron)


Não importa o tempo que passe, não importa o que me faz lembrar, não importa o dia do ano, sinto que essa falta nunca sairá de mim.
De vez em quando eu queria acreditar que a senhora pode me ouvir, porque me confortaria saber que a senhora sabe como eu me sinto, apesar de achar que sempre soube.
De vez em quando, quando eu chego em casa ainda te procuro, me distraio e quase pergunto: mãe, cadê a vó?
De vez em quando eu ainda abro a porta do quarto que não é mais seu e olho a poltrona onde a senhora não está e sinto uma frase entalada na minha garganta: “Benção meu amor”
De vez em quando, quando saio de casa e peço a opinião de alguém sobre a roupa que estou vestindo ou sobre qualquer coisa na minha aparência, eu ainda vejo seu sorriso pra me dizer: “Você já nasceu linda minha filha”
De vez em quando, talvez eu sonhe, eu ainda vejo a luz do meu quarto se acender em algum momento da noite, é senhora que veio ver se estou bem, saber se eu já cheguei: “Boa noite minha filha, dorme com Deus”
De vez em quando eu abro uma gaveta, mexo numa caixa, vejo uma foto e é inevitável pensar no seu abraço e lembrar do seu cheiro.
Eu lembro dos sonhos que a senhora  tinha pra mim, eu sei quais eu já realizei, mas o sabor das conquistas não é o mesmo.
E quando eu penso nas coisas que ainda quero pra minha vida, nos sonhos que estou buscando hoje eu não consigo deixar de pensar que a senhora não estará comigo.
Eu queria te falar de tudo que eu aprendi, que sempre te achei a mulher mais forte e mais doce desse universo. A senhora sempre tinha um sorriso, uma lágrima , uma palavra pra tornar minha vida mais branda, meu fardo mais leve, meu mundo melhor.
Eu queria falar do seu exemplo, de quem não estudou mas sabia o valor da educação, de quem lutou pra colocar os filhos nas melhores escolas, de quem apoiou os netos nas lutas e nas dificuldades.
Eu queria falar do seu amor, de quem me deu colo quando eu chorei, de quem me repreendeu quando eu precisava disso, de quem riu comigo nos meus melhores dias.
Eu queria falar do seu bom humor, da sua revolta com as injustiças, da sua disposição para ajudar os outros.
Não importa quantas vezes eu tenha te dito como eu gostava dessas coisas e o que eu achava de tudo isso. Sempre vou achar que não foi o suficiente.
Perder a senhora foi de longe a pior dor que senti na vida.
E quando essa dor bate forte, sem dia especial nem motivo aparente,  eu lembro da senhora, e eu lembro daquele olhar que sorria pra dizer “Por que você ta chorando? Venha cá, me diga” e dos conselhos, do cafuné, do abraço.
Aí, ao mesmo tempo que sua ausência me dói, lembrar da senhora me dá forças pra continuar, me enche de vida e de esperança, me enche de vontade de ser pelo menos um pouquinho da mulher maravilhosa que a senhora foi, me enche de vontade de ser a neta de quem a senhora teria orgulho.
E se eu pudesse vê-la de novo hoje eu só ia querer um sorriso, um abraço, um beijo e a oportunidade de te dizer que te amo e receber sua benção mais uma vez.

PS: Esse texto estava “entalado” no meu coração há quase três anos, desde quando minha avó nos deixou. Coloquei ele no papel como forma de desabafo, de aliviar a alma.
Dessa sensação de ausência e incompletude que tenho hoje no coração tirei a lição que nenhum “eu te amo” deve ser guardado.
Se posso dar um conselho a alguém é esse: se você ama diga. Palavras não são tudo, mas são necessárias
Se você ama aja de acordo com seu amor, ria junto, chore junto, ouça, abrace. Faça-se presente.
Se você ama seja sincero, a verdade dita com amor transforma.
Se você ama peça perdão e perdoe.
Se você não ama, ame.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Meu lado publicitária - A Decisão é Sua

De ontem pra hoje vi muitas notícias sobre o aumento de casos de AIDS e de mortes decorrentes da doença no Brasil.
Me lembrei de um trabalho que fiz na faculdade. Na época analisamos que o grande problema das campanhas de combate a AIDS é o fato de serem muito racionais: na prática todo mundo sabe como se proteger da doença, então talvez repitir a a mensagem "Use Camisinha" não costuma ter o efeito esperado.
Com esta proposta criamos a campanha "A decisão é sua". O conceito é simples: incentivar a prevenção com uma mensagem emocional, mostrando as consequencias da AIDS na vida de um jovem.
Esse tipo de campanha de conscientização tem sido utilizada de mais um menos 1 ano pra cá para reduzir acidentes no trânsito, por exemplo.
Não acredito que a publicidade mude tudo, mas considerando-se que temos altos investimentos em campanhas contra a AIDS e o número de casos e de mortes tem aumentado, talvez mudar o foco das campanhas não seja má idéia.
Só de curiosidade, abaixo os textos dos SPOTs :




Spot 1: Garota Sonhadora

Técnica: Trilha Garota Sonhadora em backgroud.
Locução Feminina:
Quando eu tinha 15 anos eu era uma garota cheia de sonhos. Quando eu conheci o Lucas eu achei que realizaria todos eles. O Lucas foi meu primeiro namorado, eu estava muito apaixonada e me entreguei completamente. Mas o que a gente não sabia é que ele era portador do HIV.
Hoje eu ainda tenho os mesmos sonhos, mas minha vida ficou muito difícil depois que eu descobri que tenho AIDS.
Meu nome é Juliana, eu tenho 24 anos, não posso voltar atrás. Mas você pode se prevenir. A AIDS não tem cura. A decisão é sua.

Spot 2: Garoto Baladeiro

Técnica: Trilha Garoto Baladeiro em backgroud.
Locução Masculina:
Gosto de sair, curtir a vida, ir pra balada... E sem querer me gabar, eu sou o maior pegador. Mas não sou daqueles que pegam 15, 20 e ficam só nos beijinhos, pego 3 ou 4 mas eu pego pra valer.  Numa balada dessas peguei uma que mudou a minha vida. Ela veio de surpresa e me pegou de jeito, foi a única que conseguiu me segurar.
Ela? Ela é a AIDS.
Meu nome é Thiago, tenho 22 anos e não posso voltar atrás. Mas você pode se prevenir. A AIDS não tem cura. A decisão é sua.


Spot 3: Garoto Responsável

Técnica: Trilha Garoto Responsável em backgroud.
Locução Masculina:
Sempre fui um cara responsável sabe?
Meus amigos sempre me zoaram por causa disso, dizem que sou careta, que sou muito novo pra me preocupar, tenho que curtir a vida, viver o momento...
Talvez eles estejam certos, mas não gosto de arriscar.
Só me arrisquei uma vez, e não valeu à pena: por causa dessa única noite eu vou ter que conviver com a AIDS pelo resto da minha vida.
Meu nome é Adriano, tenho 20 anos e não posso voltar atrás. Mas você pode se prevenir. A AIDS não tem cura. A decisão é sua.


Spot 4: Garota Baladeira

Locução Feminina:
Sou baladeira de plantão. Quase toda noite “to” curtindo por aí.
A coisa mais fácil é me ver com algum carinha aproveitando.
Minha vida sexual é bem ativa e sempre me cuidei.
Até que uma noite tomei umas a mais, sai com um cara maravilhoso.
Não queria cortar o clima, fizemos tudo sem pensar no depois. Foi a decisão errada e mudou a minha vida. Nessa noite peguei AIDS.
Meu nome é Natalia, tenho 21 anos e não posso voltar atrás. Mas você pode se prevenir. A AIDS não tem cura. A decisão é sua.