sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Sobre os insetos interiores


( Inspirado em “A metamorfose ou Os Insetos Interiores ou O Processo” do Teatro Mágico.)

“Existem milhões de insetos almáticos.
Alguns rastejam, outros poucos correm.
A maioria prefere não se mexer.”

Fato inegável do dia-a-dia de cidade grande é que a rotina nos consome. Em meio a correria, a multidão de coisas pra fazer, aos problemas que temos pra resolver, ao trabalho, ao trânsito, acabamos presos a situações que não são de fato a nossa vida.
É como se uma doença, um vírus, no consumisse. E aí a rotina toma o lugar da vida e passamos a nos arrastar ao invés de viver.
São nossos insetos interiores. São nossas atitudes conformadas e comodistas que nos levam para hora após hora e dia após dias se arrastando, sem viver no presente e esperando um futuro que fazemos questão que não chegue.
Não vivemos o presente, pois estamos sempre aguardando algo mais, algo diferente.
E não construímos um futuro porque, mesmo aguardando algo mais, mantemos a mesma atitude, se queremos mudança, temos de mudar primeiro.
O fato é que a rotina nos ensina que “É mais fácil aturar a tristeza generalizada
Que romper com as correntes de preguiça e mal dizer.” O fato é que geralmente estamos tão acostumados à infestação de nossos insetos interiores que os temos quase como animais de estimação. Cuidamos deles. Fazemos com que se proliferem.
Não quero sugerir que é fácil viver assim, mas estamos tão acostumados com essa realidade, que qualquer outra nos parece impossível.
Lutar contra nossos insetos do dia-a-dia não é fácil, mas é simples. São pequenas atitudes que nos tiram do conformismo, que geram vida, que transformam realidade.
Inseticidas contra nossos insetos almáticos são os “bom dia” sinceros, os sorrisos iluminados, as atitudes de amor.
Cada um tem suas peculiaridades do dia-a-dia. Cada um tem seus próprios insetos almáticos. Cada um tem seus próprios inseticidas.
Descobrir os nossos inseticidas para esses insetos não é fácil, provavelmente é um  longo caminho. Mas todo caminho começa com o primeiro passo.
Comece.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Sobre tudo o que eu queria te dizer

“Difícil é esquecer quando se tem amor e você tornou-se impossível de esquecer”
Guilherme de Sá (Verso de Parusia – Rosa de Saron)


Não importa o tempo que passe, não importa o que me faz lembrar, não importa o dia do ano, sinto que essa falta nunca sairá de mim.
De vez em quando eu queria acreditar que a senhora pode me ouvir, porque me confortaria saber que a senhora sabe como eu me sinto, apesar de achar que sempre soube.
De vez em quando, quando eu chego em casa ainda te procuro, me distraio e quase pergunto: mãe, cadê a vó?
De vez em quando eu ainda abro a porta do quarto que não é mais seu e olho a poltrona onde a senhora não está e sinto uma frase entalada na minha garganta: “Benção meu amor”
De vez em quando, quando saio de casa e peço a opinião de alguém sobre a roupa que estou vestindo ou sobre qualquer coisa na minha aparência, eu ainda vejo seu sorriso pra me dizer: “Você já nasceu linda minha filha”
De vez em quando, talvez eu sonhe, eu ainda vejo a luz do meu quarto se acender em algum momento da noite, é senhora que veio ver se estou bem, saber se eu já cheguei: “Boa noite minha filha, dorme com Deus”
De vez em quando eu abro uma gaveta, mexo numa caixa, vejo uma foto e é inevitável pensar no seu abraço e lembrar do seu cheiro.
Eu lembro dos sonhos que a senhora  tinha pra mim, eu sei quais eu já realizei, mas o sabor das conquistas não é o mesmo.
E quando eu penso nas coisas que ainda quero pra minha vida, nos sonhos que estou buscando hoje eu não consigo deixar de pensar que a senhora não estará comigo.
Eu queria te falar de tudo que eu aprendi, que sempre te achei a mulher mais forte e mais doce desse universo. A senhora sempre tinha um sorriso, uma lágrima , uma palavra pra tornar minha vida mais branda, meu fardo mais leve, meu mundo melhor.
Eu queria falar do seu exemplo, de quem não estudou mas sabia o valor da educação, de quem lutou pra colocar os filhos nas melhores escolas, de quem apoiou os netos nas lutas e nas dificuldades.
Eu queria falar do seu amor, de quem me deu colo quando eu chorei, de quem me repreendeu quando eu precisava disso, de quem riu comigo nos meus melhores dias.
Eu queria falar do seu bom humor, da sua revolta com as injustiças, da sua disposição para ajudar os outros.
Não importa quantas vezes eu tenha te dito como eu gostava dessas coisas e o que eu achava de tudo isso. Sempre vou achar que não foi o suficiente.
Perder a senhora foi de longe a pior dor que senti na vida.
E quando essa dor bate forte, sem dia especial nem motivo aparente,  eu lembro da senhora, e eu lembro daquele olhar que sorria pra dizer “Por que você ta chorando? Venha cá, me diga” e dos conselhos, do cafuné, do abraço.
Aí, ao mesmo tempo que sua ausência me dói, lembrar da senhora me dá forças pra continuar, me enche de vida e de esperança, me enche de vontade de ser pelo menos um pouquinho da mulher maravilhosa que a senhora foi, me enche de vontade de ser a neta de quem a senhora teria orgulho.
E se eu pudesse vê-la de novo hoje eu só ia querer um sorriso, um abraço, um beijo e a oportunidade de te dizer que te amo e receber sua benção mais uma vez.

PS: Esse texto estava “entalado” no meu coração há quase três anos, desde quando minha avó nos deixou. Coloquei ele no papel como forma de desabafo, de aliviar a alma.
Dessa sensação de ausência e incompletude que tenho hoje no coração tirei a lição que nenhum “eu te amo” deve ser guardado.
Se posso dar um conselho a alguém é esse: se você ama diga. Palavras não são tudo, mas são necessárias
Se você ama aja de acordo com seu amor, ria junto, chore junto, ouça, abrace. Faça-se presente.
Se você ama seja sincero, a verdade dita com amor transforma.
Se você ama peça perdão e perdoe.
Se você não ama, ame.