sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Tábuas

Há tempestades que provocam grandes erosões em nossa alma. Mesmo em solos que considerávamos estáveis. Depois de abertas, até uma garoa fina é dilúvio, tamanho o estrago que faz em nós. Por isso é tão importante empenhar-se em aterrá-las.

Não é uma tarefa fácil, mas extremamente importante. Afinal, viver esburacado é uma negação do viver. A cada novo centímetro na erosão, um pouco de nossa humanidade se perde. Se não tratada, a erosão pode levar a desertificação.

São necessárias muitas virtudes para aterrar um buraco aberto em nós. Entre as principais estão a coragem, a paciência e o amor. Elas devem se unir ao trabalho de recuperar a nossa integridade, tarefa que não pode acontecer sem disposição nobre.

Por isso inventaram as tábuas. Elas oferecem um atalho para resolver o problema: ao invés de aterrar o buraco para continuar a caminhada, a tábua oferece a alternativa de passar por cima dele, como uma ponte, sem precisar de esforço.

Ela vence o problema imediato, mas deixa uma lacuna nociva para trás. De tábua em tábua, nos tornamos um imenso vazio. Uma profunda negação do nosso ser, que acaba na completa perda da nossa alma.

Existem muitos lugares oferecendo tábuas. Elas são vendidas sob a promessa de acabar com o sofrimento; de reatar o casamento; de recuperar o amor dos filhos; de conquistar o respeito da mãe; de curar amizades feridas; de conseguir um namorado, ou um emprego; e por aí vai.

Promessas falsas, porque não tratam o problema, apenas passam por cima dele ignorando-o. Há um buraco para ser aterrado! Antes disso, ponte nenhuma vai levar a lugar algum. As tábuas servem apenas como distração – distração de si mesmo.

Faça o caminho de volta se livrando de todas as tábuas. Com coragem, paciência e amor, aterre cada buraco de sua vida.

Lucas Lujan

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