segunda-feira, 19 de julho de 2010

Um texto do Ed René Kivitz - Perfume de Mulher.

De repente entra na sala uma mulher de reputação pra lá de duvidosa e caminha segura na direção de Jesus. Sem a menor cerimônia, ajoelha-se atrás dele e lava-lhe os pés com lágrimas. Usa os cabelos como toalha, e derrama sobre os pés secos o perfume que enche a casa de cheiro de cabaré. Jesus não se faz de rogado: entrega os pés aos beijos da mulher.
Os estreitos de plantão não perdem tempo. Criticam o desperdício de perfume, sugerindo que poderia ser transformado em pão para os pobres, e fazem questão de anunciar em alto e bom som que se trata de uma mulher de péssima reputação, pecadora, disseram. Por trás das palavras a respeito da mulher está uma implícita condenação a Jesus: se fosse profeta saberia que a mulher não presta; se fosse sério não se deixaria tocar daquele jeito; se fosse dos nossos condenaria a mulher de vida fácil.
Mas Jesus é diferente. Não é dos nossos. Jesus aceita o perfume das prostitutas. Já consigo ouvir a observação dos estreitos de hoje: é verdade, mas a mulher abandonou aquela vida... Sei não. Tudo quanto Jesus lhe diz é “seus pecados estão perdoados”, pois a demonstração de amor estava proporcional ao alívio da culpa: a quem muito é perdoado, muito ama. E Jesus se despede da mulher: “Sua fé a salvou, vá em paz”.
Via de regra os beatos não aceitam o perfume das pecadoras. E quando aceitam querem se certificar de que já mudaram de vida ou pretendem mudar. Essa é a face mais sombria do cristianismo institucionalizado: impor sua moral, enclausurar o amor de Deus e a graça do Cristo. Será o caso de “deixarmos” que a graça faça seu caminho dentro das pessoas, e as pessoas façam seu caminho por dentro da graça? Será que conseguimos acreditar que Deus trata com os pecadores, e o faz aceitando seu perfume? Ou preferimos controlar os pecadores, exigindo que se enquadrem em nossas estreitas molduras morais, em vez de lhes dar espaço para a transformação de dentro para fora?
Onde foi que esconderam o Deus que aceita o perfume das meretrizes?


Ed René Kivitz

Sobre bem e mal


"Nenhum homem sabe quão mau ele é, até que ele tenha tentado de toda maneira ser bom. Uma idéia tola, mas muito atual é que as pessoas boas não conhecem o significado ou não passam por tentações. Isto é uma mentira óbvia. Só aqueles que tentam resistir a tentação, sabem quão forte ela é. Afinal de contas, você descobre a força do exército inimigo lutando contra ele, não cedendo a ele. Você descobre a força de um vento, tentando caminhar contra ele, não se deitando ao chão. Um homem que cede ante a tentação depois de cinco minutos, simplesmente não sabe o que teria acontecido se tivesse esperado uma hora. Esta é a razão pela qual as pessoas ruins, de certa forma, sabem muito pouco sobre sua maldade. Elas viveram uma vida abrigada por estarem sempre cedendo. Nós nunca descobrimos a força do impulso mal dentro de nós, até que nós tentamos lutar contra ele: e Cristo, porque Ele foi o único homem que nunca se rendeu a tentação, também é o único homem que conhece completamente o que tentação significa – o único realista no total sentido da palavra”.

C. S. Lewis